quinta-feira, fevereiro 16

R.

Quando penso no R. rio para mim própria. Ele era realmente um pouco louco, não creio que de toda a gente que conheci até hoje, alguém tenha tido uma educação mais ridícula do que o meu querido R.
Ele era o mais novo de três, tinha um irmão e uma irmã mais velhos, ambos pessoas totalmente detestáveis. O pai era daqueles homens de fala suave, que por qualquer razão que desconheço sabia tudo sobre o trabalho e pouco ou nada sobre o próprio coração. Um idiota, também ele completamente detestável. A mãe do R. era daquelas mães que gastam fortunas em roupas, carros e institutos de beleza e que posteriormente ignoram os filhos. É estranho, nunca compreendi muito bem como tal poderia ser possível, a minha mãe sempre colocou as necessidades dela em segundo plano, para que as minhas e as dos meus irmãos estivessem em primeiro, aliás tinha funcionado sempre assim. Mas creio que muitas mães optam por comprar um par de sapatos e depois apercebem-se que não têm o suficiente para alimentar os filhos.

Então este era o passado do R. Quando o conheci pensei que se falássemos, ele se abriria e iria acabar por descobrir coisas fantásticas sobre ele próprio, o que o levaria a parar com aquela rampage auto destrutiva constante. Mas estava errada. Acho que não tinha à minha disposição as ferramentas necessárias na altura. Tudo o que ele me dizia eu sentia que não devia sequer ter perguntado. Era um sentimento horrível. Tanto que certo dia a meio das nossas conversas, ambos constatámos que as coisas estavam a ficar sérias demais para conseguirmos lidar com elas, então apenas lançámos os nossos cigarros ao chão e decidimos procurar a festa mais próxima. Assim que ele ligou o carro, suspirei profundamente, porque sabia que nos iríamos meter em problemas sérios.

Não me interpretem mal, eu amava o R. Ainda o amo, ele é das pessoas mais bonitas que algum dia conheci, mas por outro lado ele tinha um jeito especial de me levar a tomar decisões péssimas por incentivo dele.
Como altas quantidades de MDMA num dia de semana a poucos dias dos meus exames finais. Ou quantidades ridículas de erva compradas com dinheiro que nós não possuíamos.

Lembro-me das festas na casa dele, quando toda a gente já tinha regressado a casa, o R. metia a tocar esta música, e encontrá-lo-ia agarrado a uma qualquer garrafa de bebida a balouçar o corpo para trás e para a frente e a acenar-me a sorrir em direcção a ele, como se quisesse um parceiro de dança, mas eu simplesmente não me queria levantar.

"ANDA LÁ"- gritava-me

Preguiçosamente abria os meus olhos e gritava de volta:

"NÃO QUERO, ESTOU CANSADA"

"SE PARARES DE DANÇAR AGORA, VAIS PARAR DE DANÇAR PARA SEMPRE, NÃO DEIXES QUE ELES TE TIREM ISSO!"

Abanei a cabeça, aquela era possivelmente a ideia mais ridícula do mundo.

Mas novamente, porque não?

Lembrei-me hoje que não danço desde esse dia.

17 comentários:

$hort disse...

More, more!!!

Miss Murder disse...

Of what?

$hort disse...

Of you, of you with others, of your feellings, of your 1st time(s)- with weed, MDMA - more of your school, more of your reading preferences, more of your favorites web pages, of your favorite things in life, more of you! I'd propose to get high with you but I'd never go through with it (:

mcrs disse...

:)

Sílvia* disse...

Se isto fosse o facebook e houvesse um 'botão' de Adoro, era esse que ficava, mas, como não é, tenho de ser uma daquelas comentadoras que chega e diz só gosto, porque não há mais a dizer, está realmente muito bom =)

Mad Hattress disse...

Acho que foi dos dias que mais gostei de ler o teu blog. =)

Carolina Louback disse...

São estas lembranças que marcam para sempre, mas a vida segue adiante...

Não acho que se deva sentir responsável por fazer alguém falar e através da fala exorcizar seus pesadelos. Cada um deve lidar com as suas próprias questões. Tentar resolver os problemas dos outros ou achar que é a solução para os mesmos é a pior das hipóteses, ou seja, se ferrar junto. Ninguém salva ninguém de nada.

Anónimo disse...

São essas pequenas memórias que constroem aquilo que somos! Obrigada pelo poema do Eugénio de Andrade, não conhecia :) *

Miss Murder disse...

rm: é dos meus poemas preferidos.

João Santos disse...

Algumas memórias não são boas nem más, são parte de nós. Aquelas que ficam para sempre e que nos lembram de quem eramos, quem somos e uma parte de quem seremos certamente!

Sufocada disse...

Gosto de ler quando te revoltas com alguma situação banal ou quotidiana, gosto de ler a tua ironia e sarcasmo em alguns post's, mas gosto mais quando falas "sériamente" sobre algo que normalmente são vivências próprias.

Anónimo disse...

O teu "R" é o meu "P". Mas tudo mudou, a malta cresceu e passados anos de separação...casei com ele.

Anónimo disse...

Ouve lá rapariguinha. Andas a espantar-me a caça?

Miss Murder disse...

Transeunte: Como?

Anónimo disse...

Ainda perguntas como? Eu devo ser mesmo muito parvo.

Miss Murder disse...

creio que sim...

Lady Me disse...

Gostei mesmo deste post. Um dia destes voltas a dançar ;)