quinta-feira, novembro 7

Life is a big big Circus

Quando tudo se começa a transformar num gigante Circo, as palhaçadas tornam-se tão corriqueiras que já ninguém as contesta. E encolhemos os ombros dizendo de forma conformada e condescendente: “É o País que temos”; “É o que há”. E a maioria de nós já nem levanta grande poeira, porque “não vale a pena”.

Mas nisto tudo há uma grande diferença, entre o sermos palhaços por nossa própria iniciativa, (porque se nos pagarem, hoje em dia aceitamos qualquer tipo de trabalho tal é o desespero. Sim, enviei o meu CV ontem para Ajudante do Pai Natal, nem está muito longe) e o sermos palhaços gratuitos, porque nos fazem de tal e esperam que nem nos apercebamos da coisa.

Nisto chegamos à pergunta essencial deste post: Até que ponto devemos deixar que nos façam de parvos com o nosso consentimento?
Há uns meses atrás quando terminei o curso e me fui inscrever no Centro de Emprego, informaram-me de algo bombástico: Estágios remunerados pelo IEFP. Digo bombásticos utilizando um adjectivo muito abaixo do que o Homem que me atendeu me fez crer, basicamente o que este me disse foi o seguinte:
“Isto é uma iniciativa do Estado para diminuir o desemprego dos jovens, a única coisa que tem a fazer é contactar a empresa onde quer trabalhar (uma ao seu gosto), propor-lhes o seu estágio, depois eles entram em contacto connosco que nós pagamos. E fica lá a estagiar um ano tudo pago por nós”

Parece bom não parece? Claro que logo à partida nós sabemos que o estagiário é o chamado “pau para toda a obra” e conheço gente que durante o estágio até os cafés servia na empresa e lavava chão… but hey, works for me. Desde que me paguem, obviamente.

Mas voltemos à parte do “contacte as empresas”, coisa que fiz. Devo ter contactado umas 20 e até ao momento não obtive resposta de nenhuma já lá vão 3 meses. Passei então a fazer algo que pensava ser mais inteligente, procurar as empresas que já tivessem entrado em contacto com o IEFP e estivesse a atribuir os tão fabulosos estágios remunerados.
Durante esse tempo, posso dizer-vos que fui contactada por uma miríade de gente do mais sacana (para não chamar nada pior) que vocês podem imaginar.

Mas nada como este último caso que vos vou relatar.

Vejo no net empregos “Trainee de Recursos humanos – Estágio Profissional Remunerado IEFP”, Mandei o CV e recebo, algum tempo depois, um mail a dizer que a 1ª parte da selecção que era a avaliação curricular estava concluída, iria passar para a 2ª parte - entrevista online. Mandaram-me um link composto por umas 30 perguntas sobre recursos humanos, com casos específicos aos quais respondi. Recebo posteriormente outro mail (uns dias depois). (Já adormeceram com o relato??? Adiante...) A dizer que tinha passado à 3ª fase de selecção em que teria de responder agora a testes de lógica e mais não sei quê. Aquilo eram umas milhentas perguntas de psicotécnicos, às quais eu respondi. Depois disto enviaram-me novo mail informando-me que tinha passado todas as fases e entrariam em contacto por telefone no dia seguinte às 10 da manhã.

No dia seguinte ligam-me e a conversa foi a seguinte:

“blá blá blá… Estou a contacta-la porque passou todas as fases de selecção, até agora, para Trainee de recursos humanos e gostaríamos de fazer uma entrevista presencial na qual vamos analisar a dinâmica de grupo…”

Eu: Pode informar-me se, a ser seleccionada, me será atribuído um estágio do IEFP?

“Ah… bem, nos primeiros 4 meses tem de passar por um período de formação não remunerado. Onde será testada semanalmente para vermos se consegue cumprir objectivos e se se adequa ao perfil da Empresa. São avaliações muito exigentes. Só posteriormente é que lhe será atribuído o estágio, ou não...”

Eu: E quer fazer-me crer que me vão de facto dar formação por 4 meses? E que provavelmente ao 15º dia eu já não estarei a trabalhar, por baixo dessa camuflagem de formação?

“haamm, humm… “

Eu: É que entende, o centro de emprego está a pagar à empresa para a empresa me dar o estágio, no qual já deveria estar englobada a formação que vocês querem que eu vá ter de graça. Ou seja o estado paga-vos, mas quando eventualmente o dinheiro chegar às minhas mãos eu já estarei a trabalhar a 100%, após uma formação não remunerada de 4 meses.

“Sabe que o Estado não paga tudo, já foram os tempos em que isso acontecia”

Eu: Pois, há casos em que o estado paga 80% e outros que paga 100%. Eu estou informada da situação, por isso tenho a dizer-lhe que não estou interessada.

“De qualquer das formas vou deixar a sua candidatura em aberto, para o caso de aparecer algo que vá mais de encontro ao que procura”

Eu: Qualquer sitio onde me paguem já vai mais “de encontro ao que procuro”.

É isto.