quarta-feira, novembro 23

A verdadeira razão pela qual não quero ter filhos

Claro que começo isto inteligentemente a puxar à sabedoria popular do, nunca digas desta água não beberei, ou nunca cuspas para o ar, porque a realidade é que não faço ideia do que vou querer para a minha vida no dia de amanhã, quanto mais daqui a uns anos. Aliás, honestamente quem vos garante que daqui a 2 anos eu não serei uma fashion blogger de sucesso que dedica posts ao “boy” e fotografa os pezinhos do filho na praia?

Ninguém.

Mas por incrível que pareça, mesmo sendo inconstante nas minhas decisões e atitudes, no que respeita à questão: “Queres ter filhos um dia?”

A minha resposta é a mesma desde os 10 anos de idade:
- Não, não quero ter filhos.

Podia dar-vos aqui a palha habitual que toda a gente diz: “prezo muito o meu espaço”, “Gosto da minha liberdade” (…) Mas seria uma falácia.

O verdadeiro motivo pelo qual nunca terei filhos é, porque penso demasiado (se não pensasse seria tão mais feliz) e para complementar isto, sou uma pessoa extremamente preocupada com tudo. A sério com tudo, coisas irracionais, coisas racionais, coisas que não lembram nem ao menino Jesus, TUDO. 
E convenhamos portanto, que um filho é possivelmente a maior fonte de preocupações que podemos arranjar, desde o primeiro momento em que o sentimos na nossa barriga, até à nossa morte.

Se nunca pensaram nisso, observem:

- Gravidez: “Será que ele vai nascer perfeitinho?”; “Meu Deus e se ele nasce com 7 dedos em cada mão”; “E se ele nasce com algum problema de desenvolvimento?”; “E se ele é doente?”; “E se ele não é feliz?”

- A criança nasce: “Serão cólicas, ou será que ele tem algum problema mais grave?”; “Teste do pezinho, teste da mãozinha, 21892834328 testes para ver se a criança está bem.” “E se lhe acontece alguma coisa do nada?"  Uma vez vi um programa sobre a morte súbita nos bebés e eles deixavam de respirar do nada. (quando a minha sobrinha era pequena e adormecia ia vigiá-la inúmeras vezes, metia-lhe um espelho à frente para ver se embaciava e se ainda estava a respirar); “E se ele não é feliz?”

- Chega a altura de voltarmos a trabalhar: “Onde é que vou deixar o meu filho agora? Num infantário? Será que eles lá o vão tratar bem? E se elas se distraem e ele engole uma peça qualquer de um lego e sufoca? E se ele se engasga com qualquer coisa? Como são tantas crianças as educadoras vão se estar a borrifar para a minha, ele vai passar o dia inteiro a chorar, sentado no chão, sem ninguém olhar para ele”; “E se ele não é feliz?”

- Criança vai para a primeira classe: “Será que ele se vai dar bem?”; “Será que vai fazer amigos, ou vão gozar com ele por qualquer coisa?”; “E se ele é burro e chumba logo no 4º ano, e se gozam com ele por isso para o resto da vida?” “E se ele se transforma numa naquelas crianças mimadas insuportáveis que ninguém aguenta e da qual todos dizem mal nas nossas costas?”; “E se ele não é feliz?”

- Altura de Férias: “Se eu o mandar para um campo de férias porque é muito mais divertido, será que lá trabalha algum tarado pedófilo que lhe faça mal?”; “E se ele não pode apanhar sol?”; “E se me esqueço das horas a que o sol faz mal e ele apanha um cancro de pele?”; “E se ele não é feliz?”

- Criança vai para o secundário: “Será que ele vai saber distinguir as boas pessoas das más?”; “Será que vai ter bons amigos?”; “Será que se vai meter na droga?”; “Será que vai ser um adolescente esquisito que se veste estranho e acha que o mundo está contra ele?”; “Será que ele vai ser daqueles que só quer vestir roupa cara de marca?” “Será que vou ter dinheiro para lha comprar?” ; “E se ele não é feliz?”

- Entrada na faculdade: “Será que ele quer ir para a faculdade?”; “E se ele não escolher um bom curso”; “E se ele não tem média para entrar naquilo que quer?”; “E se ele não consegue realizar os sonhos dele?”; “E se ele não é feliz?”

- Vida adulta: “Será que ele vai morar comigo até aos 40?”; “Será que vai casar e ter filhos”; “Será que vai passar por um divórcio e regressar a casa, de malas feitas e coração despedaçado?”; “Será que se vai transformar num alcoólico, frustrado que me culpa da vida dele não ter sido melhor?”; “E se ele não é feliz?”

Acho que é a primeira vez que coloco isto nestes moldes, mas o principal motivo pelo qual não terei filhos, é o mais altruísta de todos e ao mesmo tempo o mais egoísta: Eu não conseguiria garantir que ele fosse feliz.
Podia dar-lhe tudo e mais alguma coisa e ele acabar por se transformar num cabrão mal formado que me meteria num lar de 3ª idade daqueles mal cheirosos onde batem nos velhinhos, e depois quando eu morresse viria buscar o pouco que eu conquistei em 5000 anos de trabalho duro e gastaria a herança numa viagem a Cancun com duas prostitutas.

Honestamente se pensarmos um pouco, ter filhos não compensa!  

36 comentários:

Anaa disse...

também não quero ter filhos. Essa é uma das razões...para mim há mais. Claro que quase sou apedrejada quando digo isto porque na cabeça da maioria das pessoas a mulher tem que querer ter filhos --'

Me,myself & I! disse...

Compensa,compensa...acredita que compensa!
E eu ainda consigo ser ainda mais control-freak que tu!

Ana disse...

Acho que nunca pensei tão pormenorizadamente no assunto como tu, mas a verdade é que eu já aos 15 anos dizia que não queria ter filhos, aos 20 continuava a dizer o mesmo, aos 30 idem idem e, apesar de toda a gente me dizer que um dia iria mudar de ideias, chego aos 40 com a certeza mais do que absoluta de que continuo a não querer. Porquê? Não me apetece, não existe instinto maternal.

Unknown disse...

por acaso sempre disse que nao queria ter filhos.. mas acho que ninguem me leva a sério.

Ana disse...

eu gostava. mas nao gostava de os aturar dos 4 aos 10 anos

D.S. disse...

Essa não é uma razão egoísta. O verdadeiro egoísmo é ter filhos porque é suposto, porque faz parte da vida sem os querer verdadeiramente, não querendo depois saber deles nem de acompanhá-los diariamente da forma como merecem. O que tu acabaste de descrever é o oposto disto: é simplesmente a responsabilidade a manifestar-se.

S* disse...

Compensa pelo amor que damos e recebemos... isso compensa tudo, todo o esforço, todas as preocupações, todos os sacrifícios. Mas sem dúvida que este teu texto é muito real e com muita lógica... se virmos as coisas dessas perspectiva, é assustador.

Cat disse...

Eu penso exactamente da mesma forma, portanto não te censures. Não nasci para ser mão, sou um ser demasiado desesperado e preocupado...Nem com os meus problemas sei lidar, quanto mais os meus mais os de uma criança acrescidos. E diga-se, já diz o ditado: quem tem filhos, tem sarilhos. Se tivesse um rebentozinho, acho que tinha um esgotamento só por causa das preocupações.

Anónimo disse...

A verdadeira razão para pensares dessa forma acho que é o facto de seres uma péssimista inveterada. Não importa as vezes que a vida nos prega rasteiras. Só têm a importância que lhes damos. Nunca deixes que as incertezas da vida te consumam. O optimista vê o copo meu cheio. O péssimista, meio vazio

laura disse...

eu gosto do filhos dos outros, mas não me parece que algum dia venha a ter. não suporto a responsabilidade de ter uma vida nas vinhas mãos, se nem da minha sei cuidar.

André disse...

Tu lá no fundo no fundo és uma querida e preocupas-te demasiado com as coisas como acabaste de demonstrar (de x em qnd descais-te ^^ o que é sempre giro).
De certo que irias dar uma excelente mãe

Pretonoamarelo disse...

Antigamente pensava o contrario acho que ate tinha mais jeito para lidar com crianças e tudo mais mas hoje em dia penso o mesmo não me imagino pai... consigo me imaginar mais a educar uma criança do que passar por essas coisas todas entre bebe e os 10 anos mais ou menos

AlexandraPaixão disse...

Ainda bem que as nossas mães não pensavam assim. ahah
Eu sinceramente gosto imenso de crianças, mas não sei, a ideia de ser mãe parece bonita, mas também assustadora.

Anaa disse...

fogo, ao ler os comentários a este post até eu me senti compreendida xD

Devaneios de Uma Loira disse...

agora puseste-me a pensar em coisas que nunca tinha pensado :) bjinhos

Geraldine disse...

Com que então imaginas-te a ter um filho homem...

$hort disse...

Happiness is overrated

Maria João disse...

Eu tenho 2. Uma com 2 anos e meio e um com 3 meses!!! E tudo o que disseste é muito verdade, se é. Uma preocupação constante, sem dúvida. Não adianta dizer-te que compensa, que vale a pena, que são o melhor do mundo e blá blá blá porque isso ouves todos os dias, mas só quem é mãe é que compreende. Espero que um dia mudes de ideias, ou que a vida te faça mudar de ideias e que experiencies a coisa melhor do mundo que é ser mãe! Acredita em mim:)

jonatasbermudes disse...

Huahuaha. Não quero ser do contra, mas ainda há chances de mudar de ideia. E tenho certeza que seria uma ótima mãe (tão boa quanto a sua). :)

Susanna Rush disse...

Eu entendo perfeitamente. Tenho 35 anos e sempre fui adianado a ideia de ter filhos. Muitas vezes dei a volta à cabeça, pesando os prós e os contras, e sempre me pareceram mais contras que prós. Tentei +/- 1 ano en gravidar... mas nada aconteceu. Um misto de tristeza com alivio quando fiz o teste e deu negativo. Imaginei de imediato como me sentiria se fosse positivo. Pensei que de de facto eu não tinha o direito de me sentir assim. Não por mim, mas pela criança se estivesse grávida. E após estes anos todos (porque estou casada há 15 anos) não tenho certezas. Não somos todos iguais. Temos desejos diferentes. Temos o direito de escolher. Desde que a decisão seja tomada em consciência, ter ou não ter filhos não faz de nós menos nem mais que ninguém.

Bjtos.

Raquel SC disse...

Engraçado ver este teu post. Engraçado porque já me vi a pensar assim: durante montes anos achava que ter filhos não era para mim, que tinha nascido para ser tia. Adoro crianças e tal mas tratar delas a cem por cento do tempo com todas as preocupações que isso envolve remetia-me para a ideia de que ser tia é que era bom. Uma tia presente que levava os sobrinhos aos cinema, passeava com eles, mimava-os totalmente e falava com eles. Pasava uns fins-de-semana com eles e tal e tal, era feliz soltirona e descomprometida.
Digo que já pensei porque depois, a minha vida mudou, entrei numa relação e, pela primeira vez, algo que nunca tinha acontecido, imaginei uma vida para sempre com essa pessoa e isso envolvia filhos. Foi assustador até ao ponto de habituar-me e adorar a ideia. Ele diz que eu amadureci. Não o acho necessariamente.

Anónimo disse...

Olha não podia concordar mais. Eu nunca quis ter nem irmãos nem filhos. Desde sempre. E assim será.

Anónimo disse...

Damn... You're crazy girl! (Numa maneira afectuosa de falar claro!)

Anónimo disse...

para além de tudo o que escreveste, ainda tenho outro motivo: não gosto de crianças.. é triste, mas é verdade..

Anónimo disse...

A verdadeira razão pela qual não queres ter filhos é porque ainda não me conheceste.

ordinarygirl disse...

Blogger Jace Beleren disse...

A verdadeira razão pela qual não queres ter filhos é porque ainda não me conheceste.

Que lindo! =P

Miss Murder disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miss Murder disse...

Ordinary: Anda a passar-se algo de muito estranho nesta umbigosfera, e eu não sei o que é.
É gente a publicar fotos de corpo inteiro e a dar o email para quem quiser contactar e estiver interessado em "descobrir o amor" e aqui no meu humilde espaço é isto, enfim... Bem diziam que no final dos tempos íamos ver de tudo.

Cacarol disse...

Vais mudar de ideias...

Unknown disse...

Eu também sou assim, com tudo. tenho dois irmãos mais novos (e giros) e vivencio essas preocupações, mas mesmo assim quero ter filhos...

Carolina Louback disse...

Muito interessante o teu post. Acho que se alguns casais que pretendesse ter filhos fossem ler o que escreveste aqui, muito provavelmente desistiriam da idéia de ter filhos. As preocupações listadas são tais e quais, muito pertinentes de fato.

Amo a minha filha e foi o que de mais significativo aconteceu em minha vida. Quanto ao fato dela ser feliz, penso que pelo fato de amá-la e dela sentir-se amada contribua para felicidade dela, da auto-estima com certeza. Os filhos necessitam ser amados, e se sentem amados tudo mais se conquista e se resolve.

ordinarygirl disse...

Miss Murder, talvez seja o desespero. Eu já fui mais contra... hahahaha. credo!

Carla disse...

E um dia, se os tiveres, vais perceber que não há nada melhor nem que compense mais nem que te faça mais feliz do que vê-los sorrir ou ouvi-los rir!

Unknown disse...

Ruiva, ( as I'm) :D
tens toda a razão no que dizes. Sou mãe de 2 raparigas e uma delas dá comigo em doida por diversas razões. Mas ser mãe é uma dádiva. Dar e receber amor. Só há um amor verdadeiro ( na minha opinião, claro) é o amor de uma mãe pelos seus filhos. Esse nunca morre.

Mas entendo perfeitamente aquilo que dizes e aceito sem qualquer choque.

Anónimo disse...

Acho que nunca li nada tão próximo daquilo que penso e não consigo explicar! Fenomenal!

ig disse...

vim cair ao teu blog, já chorei a rir com mil posts mas tinha mesmo qe comentar este. é precisamente por isto qe eu também digo qe não sei se quero ter filhos. e se lhes acontece alguma coisa? mas não é só com filhos. também é com cães. queria muito ter um cão, um beagle, mas e se ele fica doente? e se ele morre? e se ele é atropelado? pior, e se temos qe o mandar abater por um qqr motivo? não consigo viver com isso.