Claro que começo isto inteligentemente a puxar à sabedoria popular do, nunca digas desta água não beberei, ou nunca cuspas para o ar, porque a realidade é que não faço ideia do que vou querer para a minha vida no dia de amanhã, quanto mais daqui a uns anos. Aliás, honestamente quem vos garante que daqui a 2 anos eu não serei uma fashion blogger de sucesso que dedica posts ao “boy” e fotografa os pezinhos do filho na praia?
Ninguém.
Mas por incrível que pareça, mesmo sendo inconstante nas minhas decisões e atitudes, no que respeita à questão: “Queres ter filhos um dia?”
A minha resposta é a mesma desde os 10 anos de idade:
- Não, não quero ter filhos.
Podia dar-vos aqui a palha habitual que toda a gente diz: “prezo muito o meu espaço”, “Gosto da minha liberdade” (…) Mas seria uma falácia.
O verdadeiro motivo pelo qual nunca terei filhos é, porque penso demasiado (se não pensasse seria tão mais feliz) e para complementar isto, sou uma pessoa extremamente preocupada com tudo. A sério com tudo, coisas irracionais, coisas racionais, coisas que não lembram nem ao menino Jesus, TUDO.
E convenhamos portanto, que um filho é possivelmente a maior fonte de preocupações que podemos arranjar, desde o primeiro momento em que o sentimos na nossa barriga, até à nossa morte.
Se nunca pensaram nisso, observem:
- Gravidez: “Será que ele vai nascer perfeitinho?”; “Meu Deus e se ele nasce com 7 dedos em cada mão”; “E se ele nasce com algum problema de desenvolvimento?”; “E se ele é doente?”; “E se ele não é feliz?”
- A criança nasce: “Serão cólicas, ou será que ele tem algum problema mais grave?”; “Teste do pezinho, teste da mãozinha, 21892834328 testes para ver se a criança está bem.” “E se lhe acontece alguma coisa do nada?" Uma vez vi um programa sobre a morte súbita nos bebés e eles deixavam de respirar do nada. (quando a minha sobrinha era pequena e adormecia ia vigiá-la inúmeras vezes, metia-lhe um espelho à frente para ver se embaciava e se ainda estava a respirar); “E se ele não é feliz?”
- Chega a altura de voltarmos a trabalhar: “Onde é que vou deixar o meu filho agora? Num infantário? Será que eles lá o vão tratar bem? E se elas se distraem e ele engole uma peça qualquer de um lego e sufoca? E se ele se engasga com qualquer coisa? Como são tantas crianças as educadoras vão se estar a borrifar para a minha, ele vai passar o dia inteiro a chorar, sentado no chão, sem ninguém olhar para ele”; “E se ele não é feliz?”
- Criança vai para a primeira classe: “Será que ele se vai dar bem?”; “Será que vai fazer amigos, ou vão gozar com ele por qualquer coisa?”; “E se ele é burro e chumba logo no 4º ano, e se gozam com ele por isso para o resto da vida?” “E se ele se transforma numa naquelas crianças mimadas insuportáveis que ninguém aguenta e da qual todos dizem mal nas nossas costas?”; “E se ele não é feliz?”
- Altura de Férias: “Se eu o mandar para um campo de férias porque é muito mais divertido, será que lá trabalha algum tarado pedófilo que lhe faça mal?”; “E se ele não pode apanhar sol?”; “E se me esqueço das horas a que o sol faz mal e ele apanha um cancro de pele?”; “E se ele não é feliz?”
- Criança vai para o secundário: “Será que ele vai saber distinguir as boas pessoas das más?”; “Será que vai ter bons amigos?”; “Será que se vai meter na droga?”; “Será que vai ser um adolescente esquisito que se veste estranho e acha que o mundo está contra ele?”; “Será que ele vai ser daqueles que só quer vestir roupa cara de marca?” “Será que vou ter dinheiro para lha comprar?” ; “E se ele não é feliz?”
- Entrada na faculdade: “Será que ele quer ir para a faculdade?”; “E se ele não escolher um bom curso”; “E se ele não tem média para entrar naquilo que quer?”; “E se ele não consegue realizar os sonhos dele?”; “E se ele não é feliz?”
- Vida adulta: “Será que ele vai morar comigo até aos 40?”; “Será que vai casar e ter filhos”; “Será que vai passar por um divórcio e regressar a casa, de malas feitas e coração despedaçado?”; “Será que se vai transformar num alcoólico, frustrado que me culpa da vida dele não ter sido melhor?”; “E se ele não é feliz?”
Acho que é a primeira vez que coloco isto nestes moldes, mas o principal motivo pelo qual não terei filhos, é o mais altruísta de todos e ao mesmo tempo o mais egoísta: Eu não conseguiria garantir que ele fosse feliz.
Podia dar-lhe tudo e mais alguma coisa e ele acabar por se transformar num cabrão mal formado que me meteria num lar de 3ª idade daqueles mal cheirosos onde batem nos velhinhos, e depois quando eu morresse viria buscar o pouco que eu conquistei em 5000 anos de trabalho duro e gastaria a herança numa viagem a Cancun com duas prostitutas.
Podia dar-lhe tudo e mais alguma coisa e ele acabar por se transformar num cabrão mal formado que me meteria num lar de 3ª idade daqueles mal cheirosos onde batem nos velhinhos, e depois quando eu morresse viria buscar o pouco que eu conquistei em 5000 anos de trabalho duro e gastaria a herança numa viagem a Cancun com duas prostitutas.
Honestamente se pensarmos um pouco, ter filhos não compensa!
36 comentários:
também não quero ter filhos. Essa é uma das razões...para mim há mais. Claro que quase sou apedrejada quando digo isto porque na cabeça da maioria das pessoas a mulher tem que querer ter filhos --'
Compensa,compensa...acredita que compensa!
E eu ainda consigo ser ainda mais control-freak que tu!
Acho que nunca pensei tão pormenorizadamente no assunto como tu, mas a verdade é que eu já aos 15 anos dizia que não queria ter filhos, aos 20 continuava a dizer o mesmo, aos 30 idem idem e, apesar de toda a gente me dizer que um dia iria mudar de ideias, chego aos 40 com a certeza mais do que absoluta de que continuo a não querer. Porquê? Não me apetece, não existe instinto maternal.
por acaso sempre disse que nao queria ter filhos.. mas acho que ninguem me leva a sério.
eu gostava. mas nao gostava de os aturar dos 4 aos 10 anos
Essa não é uma razão egoísta. O verdadeiro egoísmo é ter filhos porque é suposto, porque faz parte da vida sem os querer verdadeiramente, não querendo depois saber deles nem de acompanhá-los diariamente da forma como merecem. O que tu acabaste de descrever é o oposto disto: é simplesmente a responsabilidade a manifestar-se.
Compensa pelo amor que damos e recebemos... isso compensa tudo, todo o esforço, todas as preocupações, todos os sacrifícios. Mas sem dúvida que este teu texto é muito real e com muita lógica... se virmos as coisas dessas perspectiva, é assustador.
Eu penso exactamente da mesma forma, portanto não te censures. Não nasci para ser mão, sou um ser demasiado desesperado e preocupado...Nem com os meus problemas sei lidar, quanto mais os meus mais os de uma criança acrescidos. E diga-se, já diz o ditado: quem tem filhos, tem sarilhos. Se tivesse um rebentozinho, acho que tinha um esgotamento só por causa das preocupações.
A verdadeira razão para pensares dessa forma acho que é o facto de seres uma péssimista inveterada. Não importa as vezes que a vida nos prega rasteiras. Só têm a importância que lhes damos. Nunca deixes que as incertezas da vida te consumam. O optimista vê o copo meu cheio. O péssimista, meio vazio
eu gosto do filhos dos outros, mas não me parece que algum dia venha a ter. não suporto a responsabilidade de ter uma vida nas vinhas mãos, se nem da minha sei cuidar.
Tu lá no fundo no fundo és uma querida e preocupas-te demasiado com as coisas como acabaste de demonstrar (de x em qnd descais-te ^^ o que é sempre giro).
De certo que irias dar uma excelente mãe
Antigamente pensava o contrario acho que ate tinha mais jeito para lidar com crianças e tudo mais mas hoje em dia penso o mesmo não me imagino pai... consigo me imaginar mais a educar uma criança do que passar por essas coisas todas entre bebe e os 10 anos mais ou menos
Ainda bem que as nossas mães não pensavam assim. ahah
Eu sinceramente gosto imenso de crianças, mas não sei, a ideia de ser mãe parece bonita, mas também assustadora.
fogo, ao ler os comentários a este post até eu me senti compreendida xD
agora puseste-me a pensar em coisas que nunca tinha pensado :) bjinhos
Com que então imaginas-te a ter um filho homem...
Happiness is overrated
Eu tenho 2. Uma com 2 anos e meio e um com 3 meses!!! E tudo o que disseste é muito verdade, se é. Uma preocupação constante, sem dúvida. Não adianta dizer-te que compensa, que vale a pena, que são o melhor do mundo e blá blá blá porque isso ouves todos os dias, mas só quem é mãe é que compreende. Espero que um dia mudes de ideias, ou que a vida te faça mudar de ideias e que experiencies a coisa melhor do mundo que é ser mãe! Acredita em mim:)
Huahuaha. Não quero ser do contra, mas ainda há chances de mudar de ideia. E tenho certeza que seria uma ótima mãe (tão boa quanto a sua). :)
Eu entendo perfeitamente. Tenho 35 anos e sempre fui adianado a ideia de ter filhos. Muitas vezes dei a volta à cabeça, pesando os prós e os contras, e sempre me pareceram mais contras que prós. Tentei +/- 1 ano en gravidar... mas nada aconteceu. Um misto de tristeza com alivio quando fiz o teste e deu negativo. Imaginei de imediato como me sentiria se fosse positivo. Pensei que de de facto eu não tinha o direito de me sentir assim. Não por mim, mas pela criança se estivesse grávida. E após estes anos todos (porque estou casada há 15 anos) não tenho certezas. Não somos todos iguais. Temos desejos diferentes. Temos o direito de escolher. Desde que a decisão seja tomada em consciência, ter ou não ter filhos não faz de nós menos nem mais que ninguém.
Bjtos.
Engraçado ver este teu post. Engraçado porque já me vi a pensar assim: durante montes anos achava que ter filhos não era para mim, que tinha nascido para ser tia. Adoro crianças e tal mas tratar delas a cem por cento do tempo com todas as preocupações que isso envolve remetia-me para a ideia de que ser tia é que era bom. Uma tia presente que levava os sobrinhos aos cinema, passeava com eles, mimava-os totalmente e falava com eles. Pasava uns fins-de-semana com eles e tal e tal, era feliz soltirona e descomprometida.
Digo que já pensei porque depois, a minha vida mudou, entrei numa relação e, pela primeira vez, algo que nunca tinha acontecido, imaginei uma vida para sempre com essa pessoa e isso envolvia filhos. Foi assustador até ao ponto de habituar-me e adorar a ideia. Ele diz que eu amadureci. Não o acho necessariamente.
Olha não podia concordar mais. Eu nunca quis ter nem irmãos nem filhos. Desde sempre. E assim será.
Damn... You're crazy girl! (Numa maneira afectuosa de falar claro!)
para além de tudo o que escreveste, ainda tenho outro motivo: não gosto de crianças.. é triste, mas é verdade..
A verdadeira razão pela qual não queres ter filhos é porque ainda não me conheceste.
Blogger Jace Beleren disse...
A verdadeira razão pela qual não queres ter filhos é porque ainda não me conheceste.
Que lindo! =P
Ordinary: Anda a passar-se algo de muito estranho nesta umbigosfera, e eu não sei o que é.
É gente a publicar fotos de corpo inteiro e a dar o email para quem quiser contactar e estiver interessado em "descobrir o amor" e aqui no meu humilde espaço é isto, enfim... Bem diziam que no final dos tempos íamos ver de tudo.
Vais mudar de ideias...
Eu também sou assim, com tudo. tenho dois irmãos mais novos (e giros) e vivencio essas preocupações, mas mesmo assim quero ter filhos...
Muito interessante o teu post. Acho que se alguns casais que pretendesse ter filhos fossem ler o que escreveste aqui, muito provavelmente desistiriam da idéia de ter filhos. As preocupações listadas são tais e quais, muito pertinentes de fato.
Amo a minha filha e foi o que de mais significativo aconteceu em minha vida. Quanto ao fato dela ser feliz, penso que pelo fato de amá-la e dela sentir-se amada contribua para felicidade dela, da auto-estima com certeza. Os filhos necessitam ser amados, e se sentem amados tudo mais se conquista e se resolve.
Miss Murder, talvez seja o desespero. Eu já fui mais contra... hahahaha. credo!
E um dia, se os tiveres, vais perceber que não há nada melhor nem que compense mais nem que te faça mais feliz do que vê-los sorrir ou ouvi-los rir!
Ruiva, ( as I'm) :D
tens toda a razão no que dizes. Sou mãe de 2 raparigas e uma delas dá comigo em doida por diversas razões. Mas ser mãe é uma dádiva. Dar e receber amor. Só há um amor verdadeiro ( na minha opinião, claro) é o amor de uma mãe pelos seus filhos. Esse nunca morre.
Mas entendo perfeitamente aquilo que dizes e aceito sem qualquer choque.
Acho que nunca li nada tão próximo daquilo que penso e não consigo explicar! Fenomenal!
vim cair ao teu blog, já chorei a rir com mil posts mas tinha mesmo qe comentar este. é precisamente por isto qe eu também digo qe não sei se quero ter filhos. e se lhes acontece alguma coisa? mas não é só com filhos. também é com cães. queria muito ter um cão, um beagle, mas e se ele fica doente? e se ele morre? e se ele é atropelado? pior, e se temos qe o mandar abater por um qqr motivo? não consigo viver com isso.
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