domingo, março 30

Os gordos são pessoas também

Na minha óptica existem dois tipos de pessoas que podem opinar sobre gordos:
Os gordos e os ex-gordos.

Mais ninguém tem credibilidade para fazer tal coisa. Talvez por isso me abespinhe tanto quando leio aqueles posts de “aceitação corporal” escritos por alguém que nunca teve 2 quilos a mais ou a menos do que o socialmente aceite. (E sim é o socialmente aceite. Não venham com a treta do saúde que eu já fui gorda e já fui magra e era mais saudável quando era gorda) 

“Ah a Miranda Kerr escreveu um livro sobre aceitação corporal”

 Quem bom. Não vou ler. Mas o que é que ela tem mesmo para aceitar? Tem o segundo dedo do pé maior do que o primeiro?
Eu tenho, fica horrível em sandálias…

Mas o post não é sobre dedos dos pés. O post é sobre gorduchos, gorduchos e telenovelas, já vos cativei para lerem até ao fim?
Eu sabia.

 Que a globo tenha decidido incluir no elenco de “Amor à vida” uma gorda, não é novidade, que essa gorda tenha como objectivo primordial de vida arranjar alguém que lhe salte para cima, também não é novidade. O que é novidade é o final feliz, que escreveram para a personagem.
Há uns tempos uma rapariga decidiu meter na internet um texto gigante cujo objectivo era chegar ao autor da novela, onde proclamava que as gordas eram pessoas normais, tinham profissões, algumas muito bem-sucedidas e que era um pouquinho maldoso mais uma vez cair no erro de ridicularizar a gorda. E o autor respondeu: “esperem pelo final, o final vai surpreender”

E por acaso até acertou uma vez que estava a ver a novela sexta à noite e (longe do final) já estou surpreendida.

Arranjam um namorado à Perséfone, mas atenção não é um homem banal, é alto gato, que a convida para jantar e lhe oferece flores e tudo, então eles estão a jantar e acontece este diálogo:

Ela: Mas… você quer estar comigo, mas eu sou gorda. (ela não é uma idiota. Ela tem uma boa profissão, é bonita, não mata ninguém na novela, nem troca a medicação aos velhinhos, porque é que é importante o ser gorda?)

Ele: Eu sei. Eu já olhei para você e pensei: “Cê é gorda, ninguém quê pegá”. Mas agora eu já não vejo assim. Eu te aceito.

Ela olha-o com cara de encantamento…

Ele aceita-a…

Mas que merda é esta?
Ninguém deveria estar com alguém que os aceita. “Aceitar” é um pressuposto muito ruim para o início de uma relação.
Vocês devem estar com alguém louco por vocês, malucos, destravados, que vos acham fabulosas, que gostam de vocês por vocês. Nós precisamos de nos aceitar a nós próprios, como somos. O amor da nossa vida não tem de nos aceitar, o amor da nossa vida tem de nos amar.

É essa a missão deles, não encuquem na vossa cabecinha o contrário e não aceitem nada menos do que isso.

12 comentários:

Cisma ♥ disse...

no mínimo, ridículo.
a vida já é demasiado banal para ficar com alguém que nos «aceite».

Anónimo disse...

"o amor da nossa vida não tem de nos aceitar(...)tem de nos amar" wowwww bem dito

Anónimo disse...

Esse post fez-me lembrar My Mad Fat Diary. É uma série britânica que representa muito bem o que acabaste de escrever. Dá uma vista de olhos ;)

Telma Ferreira disse...

Amén !

Catarina Sousa disse...

Acho que uma pessoa que gosta de si, nunca ficaria com alguém que apenas a "aceite", como se estivesse a fazer um favor.
Eu sou gorda e posso afirmar que o meu namorado é louco por mim xD

Anónimo disse...

acho um piadão do caralho a gente que diz os gordos isto os gordos aquilo mas depois diz que há pessoas e pessoas. e os gordos também são pessoas. há gordos e gordos. eu sei disso como ex-gorda que sou que mesmo nos gordos já bati no extremo da gorda que só come sopa na esperança de ficar magra e ter 50 gajos atrás dela para obter a atenção de um só e na gorda que se está a cagar e come tudo o que lhe apetece e lhe é impingido porque gordo por gordo ao menos feliz. mas não fosse eu gorda e tudo isso era muito lindo e aceitável porque há pessoas e pessoas. bottomline, já achei que tudo tinha de se adaptar a mim ou que nunca ninguém se tinha de adaptar, já me moldei para caber em conveniências alheias e já me fodi por achar que mereço mais ou menos ou querer um amor ideal quando o amor é diferente para cada pessoa. e já me contentei com muito pouco. verdade é que ainda hoje sou gorda. não sou tanto quanto era nem aquela gorda que uma pessoa aponta e diz "ena pá ca gorda!" (que há gente que faz isso mas que se alguém apontasse tipo "olha aquele gajo só tem merda na cabeça ou é feio como o caralho" ficava muito ofendida) mas sinto-me gorduchinha. porque nunca ninguém tira da cabeça de uma pessoa o "tás a comer assim só páras quando rebolares" ou o "sim sim, foi mesmo a comer saladas que te puseste desse tamanho" porque, para as outras pessoas, os gordos e os ex gordos podem estar sempre sob escrutínio. mas os outros não. quanto aos gajos, o amor chega para todos e para os gordos também. ou para os ex-gordos. ou para os magros. ou para os burros. ou para os que não têm filtro. para todos. acho que ninguém, seja o que for que lhe apontam, deve ficar com outros só porque acha que não vai arranjar melhor. é preciso gostar dos dois lados e o resto é secundário. não é tu és gorda mas eu gosto de ti, é eu gosto de ti, ponto. que caralhos interessa um aspectozinho só, seja ele físico ou outros, quando uma pessoa é tão mais.

Anónimo disse...

Não vejo a novela mas parece-me bastante ridículo... Aceitar como quem aceita o facto de ela ter morto alguém num momento de insanidade e escondido o cadáver? Aceitam-se atitudes e não como a pessoa se parece. Então também aceito dar-me com xpto, mesmo tendo crescido, aprendido tanto com ele e adorá-lo, mas depois ele ficou com uma psoríase da brava e quem tem pele escamada não merece amigos porque, pelo que parece, se torna imediatamente um cabrão. Mas eu aceitei que as células dele sofrem mais mitoses do que a minha e, por isso, suporto-o e aceito-o... O mesmo princípio se aplicará aos gordos, certo? Que gente que não consegue ver além...

Anónimo disse...

Ser gordo ensina-nos uma experiência de vida do crl! E começo a achar que não o trocaria por nada porque sem essa experiência não era metade da mulher que sou hoje. Bem dizem que os que são gozados em criança tornam-se adultos mais compreensivos pois conseguem meter-se no lugar dos outros e ver de mais perspectivas do que apenas a sua. E se isso não nos faz ser melhores pessoas não sei o que fará...

Invisible Woman disse...

Eu adorava ser gorda e amada. Sou magra, visto o 36, mas ninguém me liga nenhuma, os gajos não querem nada comigo... Portanto ser magra não traz felicidade a ninguém. :(

Invisible Woman disse...

Eu adorava ser gorda e amada. Sou magra, visto o 36, mas ninguém me liga nenhuma, os gajos não querem nada comigo... Portanto ser magra não traz felicidade a ninguém. :(

$hort disse...

mais valia dizer 'se prepara, sua gorda vaida, que esta noite eu vou lhe usar...'

Carolina Louback disse...

Quer saber no final da constas está tudo misturado, aceitar, amar e outros verbos mais. Aliás uma das coisas mais difíceis no exercício do amor é aceitar o outro como ele é, porque o que se quer é moldar o outro, transformar o outro. Ninguém é incondicionalmente aceito e nem incondicionalmente amado. Eis a questão. E dorme com um barulho desses.